Saúde e qualidade do ar na arquitetura

Em um momento tão desafiador como o que estamos passando, é impossível não pensarmos em nossa saúde e nos cuidados que devemos ter para que tenhamos uma vida longa e saudável. A pandemia trouxe à tona um assunto importantíssimo na arquitetura – a qualidade do ar e dos ambientes em que vivemos.

 

Recentemente o GBC – Green Building Council – um movimento global, presente em 80 países, que trabalha pela transformação da indústria da construção em direção à sustentabilidade – organizou no Brasil um evento chamado Green Building Week, cujo tema era Qualidade do Ar no Ambiente Construído.

Um assunto muito pertinente, e com certeza, não aleatório, que traz para a comunidade da construção civil uma discussão fundamental sobre os cuidados que devemos ter com a qualidade do ar nos ambientes projetados e construídos.

Em 1982 a organização Mundial da Saúde reconheceu a Síndrome do Edifício Doente (SED) após a comprovação de que a morte de 34 pessoas e a constatação de que 182 casos de contágio com a bactéria denominada Legionella pneumophila foram ocasionados pela contaminação do ar interno de um hotel na Filadélfia.

Isso aconteceu em 1976, durante uma convenção da Legião Americana de Veteranos, que reuniu mais de 4 mil ex-soldados no Bellevue Stratford Hotel. Os participantes começaram a adoecer misteriosamente, apresentando tosse, febre e dificuldade para respirar.

Como identificar a Síndrome do Edifício Doente

Quando mais de 20% dos ocupantes de um imóvel apresentam sintomas como dores de cabeça, fadiga, irritação nos olhos, nariz e garganta, ele pode ser diagnosticado com a Síndrome do Edifício Doente.

Em um primeiro momento, problemas de saúde como estes parecem não ter qualquer relação com os aspectos construtivos de uma edificação, porém, assim como nós as construções adoecem e apresentam patologias.

Nesses casos, a origem do problema pode estar na concepção do projeto da edificação – principalmente dos sistemas de ar-condicionado – e na falta de planos de manutenção periódica dos equipamentos.

Essa síndrome, que começou a ser estudada na década de 1970, está frequentemente relacionada ao sistema de refrigeração ou de aquecimento dos edifícios. Ela pode ser provocada pela presença de bactérias, vírus ou fungos em sistemas de ar condicionado sem manutenção adequada; de produtos químicos dispersos no ar ou de poeira acumulada em carpetes ou cortinas.

Além das bactérias e vírus, os contaminantes do ar interno podem aparecer na forma química. Entre os contaminantes químicos estão: monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio, ozônio, formaldeído, dióxido de enxofre, amônia e radônio 222 (oriundo do decaimento radioativo do rádio 226), presente nos solos, lençóis freáticos e materiais como pedras, tijolos e concreto. 

Os materiais sintéticos de revestimento, aglomerados de madeira, alcatifas, papéis de parede, colas, removedores, cera, espumas de isolamento, solventes, tintas, vernizes, além de equipamentos como impressoras e fotocopiadoras e produtos de limpeza, são potenciais fontes de contaminação.

Além destes, outros fatores como iluminação, ruídos e odores, podem agravar os problemas de saúde relacionados ao edifício.

Certamente, nos projetos residenciais e de edifícios de pequeno porte, alguns destes problemas são produzidos em uma escala menor, porém não podem ser ignorados.

Vamos listar aqui 5 ações simples, mas de grande impacto, que consideramos premissas básicas para projetos inteligentes e que levam em consideração a qualidade de vida das pessoas.

  1. Iluminação natural – pensar em ambientes com iluminação natural e preferencialmente com incidência direta do sol durante alguns períodos do dia.
  2. Ventilação Natural – dimensionar corretamente as aberturas e permitir a ventilação natural e cruzada.
  3. Manutenção dos Equipamentos – realizar a manutenção preventiva dos equipamentos de ar condicionado respeitando a periodicidade recomendada pelo fornecedor.
  4. Materiais e produtos – dar preferência para produtos com ausência de metais pesados e tintas e que não utilizem formaldeído e não liberem COV’s (compostos orgânicos voláteis).
  5. Vegetação – Sempre que possível, tenha jardins internos e plantas purificadoras de ar. 

Os ambientes construídos influenciam a saúde, o bem-estar e a produtividade das pessoas que os utilizam. O ambiente que você mora, trabalha, fica ou se recupera não pode te deixar doente. A saúde é um grande motivador para fazermos ações conscientes e a arquitetura pode ser uma grande aliada nessa missão.

Acreditamos em ambientes mais saudáveis e sustentáveis, se você também acredita , dissemine essa ideia. Compartilhe esse texto com quem você gosta e promova equipamentos e ambientes mais saudáveis. 


Deise De Conto é Arquiteta e Urbanista, Especialista em Reabilitação Ambiental Sustentável, atua na área de projetos desde 2000.

 

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