Planta baixa x Projeto executivo: derrubando algumas crenças da arquitetura que podem acabar com o seu orçamento

Se você já construiu algo na vida, participou da construção de um familiar ou amigo, ou está pensando em construir, este texto é para você.

O conceito básico de planta baixa é uma representação da vista superior plana do seu imóvel como se tivesse sido cortado a um metro e meio de altura, a partir da base do pavimento, em escala e com informações como espessuras de paredes, portas, janelas, layout do mobiliário, entre outros. Mas esse não é o assunto deste texto.  

Para começar essa conversa tão importante sobre projeto, sim, projeto de arquitetura sério, completo e necessário a toda obra realizada com competência e sucesso, vamos entender um pouquinho do passado, de como chegamos até aqui: 2021. 

Nos formamos em 2006, com nossos sonhos de mudar o mundo, de fazer arquitetura sustentável e de qualidade, achando que sabíamos muito sobre arquitetura e obras, afinal estudamos longos 8 anos de um curso que deveria durar 5, mas que por razões da vida somente alguns conseguem se formar em tão pouco tempo. 

Nos primeiros anos de profissão, o que encontramos foi um mercado ainda pouco preparado para sustentabilidade, mas que sempre se achou cheio de verdades sobre construção.

 

A realidade bateu logo em nossa porta: clientes que queriam apenas uma assinatura no projeto, obras onde o pedreiro mandava, qualidade duvidosa dos materiais, demanda por apenas um projeto básico. Alguns clientes ainda traziam a planta baixa desenhada numa folha de caderno, não nos dando qualquer espaço para criar ou aplicar todos aqueles anos de estudos, conceitos ou soluções. 

Nunca deixamos de interferir e melhorar o processo, mesmo remando contra a corrente. E é verdade que algumas coisas já mudaram. Mas ainda não o suficiente. E neste post vamos te contar a verdade

A planta baixa não é algo que seja simples de fazer, é resultado de uma série de estudos prévios de condicionantes, custos, materiais, soluções e muitas outras variáveis introduzidas pelo usuário [sim, você!] para personalização de um projeto de construção, e não, o pedreiro não consegue fazer sozinho. E ela é apenas um dos elementos necessários para realizar um projeto. 

Este texto se propõe a derrubar o mito que todo mundo [ainda] acredita: que outros tantos profissionais ou pessoas sabem mais que o arquiteto quando se trata de projeto e que uma planta baixa resolve tudo.

Vamos lá? 

Mais que apenas uma planta baixa: por que defendemos o projeto executivo 

Todo projeto é resultado de processos, da evolução em etapas. Durante essas etapas, as demandas, necessidades e também as resoluções técnicas para que o produto (a construção) funcione como uma máquina [que aquece, resfria, ventila, pressuriza a água, liga equipamentos, entre tantas outras funções] e gere baixa manutenção precisam ser harmonizadas com a tão sonhada forma, o visual, o jardim, a iluminação e os materiais. 

Mas de fato as etapas iniciais precisam ser simples. 

E não só porque o processo está no início, mas também porque é a linguagem do cliente que deve ser utilizada. Visual, simples, acessível. Cada fase é desenhada para alguém específico.

Por isso, separamos nossos projetos em 3 fases: 

  • Definição: participam arquiteto e cliente e tudo é definido em linguagem visual, para o cliente. É onde são tomadas as grandes decisões: qual área será construída, qual o sistema construtivo, como será climatizado, que forma deverá ter, como serão os ambientes internos, as cores, os materiais. Já nessa fase, tudo que será proposto em projeto precisa ter seus espaços pensados para acomodar equipamentos, em normas que devem ser seguidas e em todos os fatores que se relacionam com o desempenho da futura construção. 
  • Desenho: arquiteto, engenheiros, designer de interiores, esta é a etapa onde são desenvolvidos todos os sistemas que conversam com a arquitetura, hidráulico, elétrico, equipamentos, piscinas, aquecimento, ar condicionado, além do paisagismo e dos projetos de interior. Por isso tudo precisa estar decidido. Nessa etapa a linguagem é técnica, em nível bem avançado, pois muitas dessas disciplinas ficarão dentro de paredes e lajes, e precisam intercomunicarem-se com as redes externas, de esgoto, água e luz, por exemplo, ligando-se às concessionárias. 
  • Entrega: é onde geramos os produtos detalhados da fase de desenho, em nível executivo, ou seja, com todas as informações necessárias e na linguagem correta para que possam ser utilizados pelas equipes de mão de obra tornarem tudo real. 

O projeto executivo representa a união da criatividade e da funcionalidade com o orçamento e o cronograma de execução. Ou seja, ele garante que fique bonito e que funcione, pois somente neste nível mais detalhado de informação é possível fazer isso de forma planejada, e com o mínimo desperdício de tempo e dinheiro. 

Tudo o que não estiver desenhado de forma executiva, com todos os detalhes pensados, será resolvido na obra, com um custo maior e o risco de não dar certo, pois nem sempre é possível compatibilizar esses dois mundos depois que a obra já está andando. Ou melhor, quase nunca. 

Aí a sua obra vira o festival das concessões. Já cansamos de ouvir: – “Ah que pena, já que não dá mais, faz desse jeito mesmo então, tudo bem, obra é assim mesmo.” Será? 

O que é BIM e porque utilizamos em nossos projetos? 

BIM é um termo que vem do inglês Building Information Modeling ou Modelagem da Informação da Construção. É uma evolução da era CAD – Computer Aided Design ou Design assistido por Computador. 

No entanto, embora alguns de vocês já tenham ouvido profissionais utilizando esse argumento para vender seus projetos, algo como: entregamos em BIM ou fazemos nossos projetos em tecnologia BIM, a grande maioria apenas utiliza sofwares com essa inteligência para desenhar. 

BIM é um modo de ver o projeto e suas equipes de forma mais colaborativa. BIM é a gestão colaborativa do projeto. Pois somente será possível modelar as informações da construção de verdade, algo como um ensaio da obra antes de sua construção, se as equipes de projetos colaborarem. Ou seja, BIM é a gestão das informações da construção traduzidas de forma executiva em um projeto, antes de sua construção. 

Isso permite avaliar cenários reais, evitar desperdícios, reduzir o custo e obter uma construção melhor em todo o seu ciclo de vida, desde o projeto até o final de sua vida útil. 

O BIM de verdade só acontece quando o seu arquiteto colabora com todas as equipes de projeto e de execução para discutir o que acontecerá na sua obra e quais as melhores formas de projetar e executar o seu projeto durante as fases de concepção. O BIM também facilita a entrega do projeto executivo pois permite simular como serão executados os serviços da obra, por isso é importante que o profissional entenda, na prática, como a obra é feita. 

Por isso, optamos desde o início de nossa atuação profissional por estar presentes e envolvidas com nossas obras. 

 

É importante você saber que o clichê é verdadeiro: papel e tela de computador aceitam tudo. 

Por que investir em um profissional que te fala a verdade custa mais caro? 

Desde que decidimos nos posicionar, escolhemos o caminho da verdade.

Você deve estar se perguntando: mas meninas, esse post não é sobre planta baixa e projetos? É sim, já te explicaremos.

[QUASE] Sempre que um cliente nos procura para fazer um orçamento a pergunta sobre quanto custa um projeto vem antes mesmo do cliente nos informar que tipo, tamanho ou qualidade de construção ele está procurando. 

Esse é o seu erro mais básico como cliente: nem sempre você sabe o que quer. E cai na armadilha de comprar um projeto ou contratar um profissional por preço. 

O profissional sério, antes de te passar um orçamento, vai te fazer as perguntas difíceis

Elas envolvem a etapa que é a mais gostosa da construção do seu sonho, mas também a que mais dói, por assim dizer. Pois é aquela que vai definir o tamanho do sonho, o que ele precisa ter, quanto custa, e o que é preciso abrir mão para torná-lo realidade.

E isso dá trabalho.

A resposta fácil todo mundo tem, é R$ %)&g#@# por metro quadrado. 

E é a resposta errada na maioria das vezes, pois não considera todas as perguntas.

Então, para chegar à resposta certa, criamos um sistema. Este sistema permite definir o cenário ideal junto com você, munido de muitas informações. E por isso nossa fase de definição envolve um projeto bem completo e avançado, e não apenas uma planta baixa. 

De posse desse cenário, fazemos um estudo de viabilidade financeira completo, onde orçamos produtos e fornecedores reais de tudo que é possível nesta fase, e te empoderamos nas decisões que vêm a seguir, em tempo de ajustar o que for preciso para viabilizar a obra. 

E isso custa mais. 

No entanto, te entrega o valor real, aquele que não deixa faltar recursos nas fases mais avançadas da obra. E economiza muito dinheiro, pois as decisões são totalmente conscientes, feitas no papel, e viabilizam trocas de materiais e cenários que podem representar economias muito maiores, numa fase que nada ainda foi comprado. 

Se você chegou até aqui, parabéns! Você é uma pessoa muito acima da média e busca informações de qualidade antes de construir. 

Nosso conteúdo se propõe a uma reflexão mais profunda da vida em espaços construídos e do mercado da Arquitetura e da Construção. Quando fazemos uma obra, mesmo que apenas a nossa casa, estamos mudando o ambiente ao nosso redor, nosso bairro, nossa cidade e deixando um legado e um patrimônio para as gerações que vêm depois.

Nenhum projeto se resume a uma planta baixa. Por isso, nos preocupamos com o legado de nossas construções. Com os materiais, o desperdício de recursos, o conforto de quem habitará esses espaços. 

Antes de contratar um profissional ou um projeto, entenda um pouco melhor o que você está comprando, assim você estará fazendo um bem maior, para si mesmo e para a sociedade.

 

Simone Fraga é Arquiteta e Urbanista, Especialista em Construções Sustentáveis e pós graduanda em Coordenação e Gestão de Projetos em BIM, atua na área de projetos desde 2008.

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