Biofilia – tendência ou genética?

Biofilia – do grego bios, vida e philia, amor, afeição – significa literalmente “amor pela vida”. É um termo que vem sendo usado na arquitetura e no design há pouco tempo, porém, ele foi mencionado pela primeira vez em 1964 por um psicólogo, e se popularizou na década de 80, através do biólogo Edward O. Wilson.

 

Segundo Winston em seu livro “Biofilia”, os seres humanos têm uma ligação emocional inata com outros organismos vivos e com a natureza.

Este mesmo conceito foi desenvolvido em seu segundo livro, em parceria com Stephen Kellert, intitulado “A hipótese da biofilia” que discute a possibilidade de haver base genética para nosso apreço pela natureza.

 

Na história da humanidade, o homem sempre teve muito contato com a natureza. Se formos analisar alguns números, desde o Homo Sapiens, (200.000 anos), passando pela agricultura (16.000 anos) e, finalmente, com o surgimento das cidades (6.000 anos), veremos que esse afastamento é recente em proporção a nossa existência e a nossa relação com a natureza.

 

Fonte: http://uptowhat.com.br/vislumbres/o-homem-e-natureza

Nossa história está essencialmente ligada a ambientes naturais. Até a década de 50, dois terços da população vivia em ambientes naturais. Isso tudo que está acontecendo é muito recente com relação à história da humanidade.

Biofilia no presente

 

Neste novo cenário construído as pessoas vivem uma pressão por desempenho, e dividem sua atenção com tudo que está acontecendo ao seu redor, gerando dificuldade de foco e aprofundamento contemplativo. 

 

Nossa sociedade está sendo chamada por estudiosos de sociedade do cansaço. O trabalho esteve em primeiro plano por muitas décadas e os ambientes construídos passaram a ser o cenário de maior permanência da maioria das pessoas. 

 

A organização mundial da saúde OMS estima que a ansiedade, que se manifesta pelo pânico, estresse e compulsão, atinge 1 a cada 25 pessoas na terra. No Brasil, quase 10% da população sofre de distúrbios psíquicos.

 

Diferente do que se pensava antigamente, a qualidade de vida não tem ligação direta com o desenvolvimento econômico. Ela depende de nos sentirmos bem, em paz – e a Biofilia é nossa capacidade natural de nos sentirmos bem em determinados lugares. É um sentimento inato de pertencimento a algo maior, é nossa essência.

 
Fonte: https://itsinformov.com.br/pt_br/projetos/its-informov/

Felizmente a arquitetura tem voltado seus olhares e estudos para ambientes mais conectáveis, não no sentido tecnológico, mas sensorial. Cada vez mais os criadores, designers e arquitetos estão voltando sua atenção para a perfeição da natureza. E existe melhor referência para qualquer projeto do que essa?

Na prática

Mas como os arquitetos podem alcançar essa conexão? Integrando a natureza aos seus espaços, através da iluminação natural, ventilação e, principalmente, vegetação. Incorporando materiais naturais como madeira, fibras e pedras aos seus projetos. 

 

Um estudo conduzido por 10 anos pelo Dr. Chris Knight da Exeter University demonstrou que as plantas aumentam em 38% a produtividade dos funcionários, enquanto estimularam uma melhora em 47% nos níveis de bem estar e 45% nos níveis de criatividade.

 
Fonte: https://itsinformov.com.br/pt_br/projetos/its-informov/

Neuroarquitetura

É comprovado que ambientes biofílicos aumentam a produtividade, o bem estar, a criatividade e a cognição. Além disso, diminuem em 37% a ansiedade e em 30% os distúrbios psíquicos.   

 

Dentro deste contexto, não poderia deixar de mencionar a Neuroarquitetura, que estuda a influência dos espaços no cérebro humano, e que tem dentro dela a biofilia. Estudos demonstram que a neuroarquitetura e a biofilia proporcionam espaços especiais para trabalhar.

 

Passamos 90% da nossa existência em determinados ambientes e isso torna ainda mais urgente que elementos relacionados à natureza estejam presentes para que a qualidade de vida de quem usufrui dos espaços também esteja ali.

 
Fonte: https://www.wework.com/pt-BR

Isso vale para todos os locais. Porém, quando pensamos em ambientes corporativos, os estudos são ainda mais necessários, já que faz uma grande diferença no aumento da produtividade – o que, consequentemente, oferece o crescimento da empresa e do profissional ao demonstrar um trabalho de qualidade.

Sabe-se que em hospitais, pacientes se curam 30% mais rápido em espaços com janelas ou vegetação. Isso se reflete também para os profissionais da saúde, que acabam se sentindo mais dispostos em voltar para o seu ambiente de trabalho.

 
Hospital Universitário St. James em Leeds na Inglaterra - Fonte: https://sustentarqui.com.br/arquitetura-biofilica-traz-bem-estar-a-pacientes/

Mais produtividade, mais atenção, menos pessoas doentes. As pessoas querem trabalhar nestes lugares pois elas se sentem mais felizes.

A gente pertence à natureza, quer queira, quer não. 

Nos afastamos demais desse contato mas, felizmente, estamos voltando para essa conexão, para a necessidade humana de estarmos mais próximos à natureza. Afinal, não é mais fácil preservar o que temos e conviver com essa maravilha que a natureza nos dá? 

É um caminho sem volta… Estejamos abertos.

Deise De Conto é Arquiteta e Urbanista, Especialista em Reabilitação Ambiental Sustentável, atua na área de projetos desde 2000.

Fontes: WEWork | IST Informov | Eduardo Cabral – arquiteto informov | TarJab | VegMag | Lab Design

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