Ar condicionado e sustentabilidade

Quem nos acompanha já percebeu que nosso “mote” é a sustentabilidade na arquitetura. Todas as decisões que tomamos em projeto desafiam as mesmices das casas convencionais, que não estão preparadas para um futuro próximo de racionalização de energia e consumo de água.

Hoje em dia, qualquer atividade só é possível com o uso de uma ou mais fontes de energia. Você com certeza já se surpreendeu com um dia sem luz, tendo a maioria das atividades, principalmente de trabalho, inviabilizadas.

Essa introdução é para falarmos sobre um vilão do consumo energético nas casas e apresentar soluções que adotamos para minimizar seu impacto, já que seu uso, por hora, não conseguimos evitar: o ar condicionado

Não sabemos se você já teve a experiência de ter um. A gente já teve e, talvez por nosso posicionamento em relação ao consumo e eficiência, nos deixava aflitas ao vê-lo ligado. 

Porém, apesar das construções serem consideradas organismos vivos (nós acreditamos muito nisso) e de podermos aproveitar recursos naturais para sua climatização, em casos mais extremos de temperatura, elas ainda não podem se resfriar e aquecer sozinhas e, portanto, precisam de sistemas complementares para melhorar o condicionamento térmico.

É aí que entra o ar condicionado.

Ok, mas afinal, qual é o consumo energético do ar condicionado? É realmente tanto assim? Conforme informações da PROCELINFO: 

Um equipamento tipo split de 9.000 Btus, que atende um ambiente de aproximadamente 12 m², considerando que ele fique ligado 8h por dia, durante 30 dias, seu consumo é de 142,28 kWh. Isso representa, aqui no RS, atualmente, em torno de R$ 65,00/mês. Já um equipamento de 14.000 BTU/h, representa R$ 87,00 em um mês de uso, durante 8h do dia. 

Mas será que a única solução para resfriarmos um ambiente é com o ar condicionado? E qual é a solução para diminuirmos seu uso sem abrirmos mão do conforto? 

Antigamente, nossos antepassados não tinham ar condicionado em suas casas, e tiveram que começar a pensar em como as forças e elementos da natureza agiam e influenciavam na vida e em como poderiam tirar proveito disso em benefício próprio e da comunidade.

Até o século XV a casa era considerada apenas um abrigo contra o frio e a chuva. As residências eram insalubres e, por consequência, motivo de muitas doenças para seus moradores.

A grande virada aconteceu com o uso das janelas e, consequentemente, do vidro, quando houve uma revolução no modo de vida dentro das casas. A luz foi levada ao interior dos ambientes e o calor dos raios do sol permitiu a melhoria da qualidade de vida dos moradores. Nos projetos, os desenhos e o modo de vida da população deram um salto.

Os recursos da natureza, quando aproveitados de forma inteligente em uma construção, trazem conforto térmico e consequentemente ajudam na sensação de felicidade dos seus moradores.

Porém, atualmente, ofuscados pelas maravilhosas descobertas tecnológicas, esquecemos de olhar para os recursos que a natureza pôs à nossa disposição e simplesmente aderimos aos equipamentos artificiais.

Vamos falar então da eficiência dos recursos naturais que são nossos aliados para uma arquitetura saudável e sustentável?

 

Ventos: 

Quando estudamos o terreno, devemos fazer uma análise dos ventos dominantes da região e se existem elementos ao redor (montanhas, prédios) que podem influenciar na sua intensidade e direção. Para aproveitarmos este recurso, precisamos estudar o seu funcionamento e aplicar técnicas de desenho arquitetônico como a posição das aberturas, por exemplo. 

A ventilação cruzada acontece quando posicionamos aberturas em paredes opostas, e ela permite que o ar atravesse o ambiente, favorecendo a renovação e tornando o microclima da edificação mais saudável.

 

Vegetação:

O uso adequado da vegetação no entorno da construção, também pode beneficiar a criação de um microclima adequado. Quando posicionada como barreira para ventos indesejados, ou incidência direta do sol,  podem alterar significativamente a temperatura das suas paredes e consequentemente do seu interior.

Um gramado no jardim da casa ajuda a diminuir o calor dos raios solares e a amenizar a temperatura do entorno.

 

Sol:

A luz do sol ajuda o organismo na produção de Serotonina, vitamina D e de uma série de substâncias que fazem nosso corpo saudável e feliz. 

O uso adequado da luz natural, que é a iluminação por meio da luz solar, apresenta muitas vantagens:

  • Torna a residência mais econômica, ao reduzir o consumo energético
  • Diminui as cargas térmicas provenientes das luminárias
  • Produz efeitos estimulantes aos moradores
  • Produz níveis de iluminação superiores à artificial

Porém, na climatização de uma edificação, se o sol não for aproveitado de forma inteligente, pode criar problemas como o aquecimento excessivo das paredes e do telhado e a incidência direta dos raios solares através dos vidros, aquecendo demais o interior.

Utilizar beirais mais longos, brises e paredes de grande inércia térmica, como o steel frame e as paredes de tijolos duplas com câmara de ar, ajudam na proteção do sol indesejado.

Para encerrarmos, é importante pontuarmos as esquadrias, pois em boa parte, é através delas que podemos perceber e receber a dádiva dos recursos naturais. Uma janela mal posicionada pode ser um desastre para a climatização de uma casa.

As esquadrias de PVC oferecem um ótimo isolamento e se aliadas ao vidro duplo e às persianas externas, podem otimizar muito o desempenho térmico da edificação como um todo.

Veja esta tabela de desempenho de esquadrias: 

Neste link você pode simular a economia de energia que a substituição por esquadrias de PVC pode proporcionar na sua casa. 

“…deve-se agir de tal forma que, a partir de qualquer que seja a zona do céu que possa ser alcançada, nessa direção se deixarão os locais das janelas; assim, as construções ficarão iluminadas.” (Vitrúvio (70-25 a.C.)

Tendo em vista tudo que falamos até agora, podemos concluir que o uso do ar condicionado pode ser significativamente reduzido, porém, seria exagero dizermos que ele pode ser eliminado. 

Para fazermos as pazes com ele (rsrsrs), vamos deixar aqui algumas dicas importantes para explorarmos de forma inteligente o seu uso e aplicação.

Escolhendo o local de instalação:

Se você está pensando em colocar um ar condicionado em sua casa, você deve analisar se tem a possibilidade de comunicar o aparelho que fica dentro do ambiente com a máquina externa e colocá-la em um local adequado, que não fique muito aparente (na frente da casa por exemplo) e onde possa ser instalado o dreno (um caninho que leva a água para fora). 

Também é importante, analisar sua posição em relação às áreas mais utilizadas do ambiente. Por exemplo, é indicado centralizá-lo ao invés de instalá-lo no canto de uma parede, de maneira a alcançar a maior área de convivência possível. Mas cuidado para não colocá-lo em um local onde o ar fique incidindo diretamente em você.

 

Temperaturas indicadas

Ok, aparelho instalado. E agora, qual a temperatura adequada para que você se sinta confortável?

Por mais que, muitas vezes, seu desejo seja de criar um freezer em grande escala, não é esse o caminho: a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) indica manter uma temperatura de 23ºC a 26ºC para ambientes fechados. Esse dado não leva em conta apenas o conforto, mas também a economia de energia e o aumento de performance da máquina.

Durante a noite, o recomendado cai para 20ºC a 23ºC, visando a manutenção do equilíbrio térmico do corpo. A única exceção é no quarto dos pequenos, onde o clima mínimo é de 26ºC. 

 

Manutenção

Não esqueça da manutenção. É muito importante realizar a higienização periódica dos filtros, que garantem a qualidade do ar, evitando doenças respiratórias. A periodicidade depende da frequência de uso, geralmente variando entre 15 dias e um mês. O processo varia conforme o modelo, tendo em vista que alguns filtros são resistentes à água e outros, não. Portanto, o indicado é contratar um técnico ou informar-se com o manual de instruções! 

Há também a limpeza completa do aparelho, que deve ser feita uma vez por ano e exige mão de obra especializada.

Calculando a quantidade de BTUs

Com o intuito de determinar a capacidade de refrigeração que atenda à sua necessidade, é definida a quantidade de BTU (British Termal Unit). Ela é estabelecida com calculadoras específicas, mas a grosso modo considera-se 600 a 800 BTUs por m². Confira aqui uma calculadora online que opera com diversas variáveis!

Design e ideias para o ar condicionado

Em nossa pasta no Pinterest você pode encontrar ótimas ideias para te inspirar. Vá em frente!

Modernidades do mercado

Confira abaixo as novidades da área.

 

Wind Free

Os aparelhos dotados dessa tecnologia são capazes de climatizar o ambiente sem o incômodo de ventos fortes. Isso acontece porque eles apresentam uma barreira com mais de 20.000 micro furos pelos quais o ar flui! Mas será que esfria mesmo? A Samsung, pioneira no assunto, está de prova: assista aqui o vídeo. 

 

Wi-fi

Controlar e monitorar sua casa à distância é um recurso cada vez mais presente. Diversas marcas como Apple, Amazon, Samsung, Xiaomi e Google já vendem dispositivos capazes de ligar e desligar lâmpadas, tomadas e aspiradores de pó, trancar portas e janelas, dentre outras utilidades. Certamente, o ar condicionado viria a aderir a essa nova realidade! Modelos com suporte para wi-fi permitem que seu usuário controle suas funcionalidades a partir de um smartphone, mesmo longe de casa. Indo muito além dos controles que vimos anteriormente, alguns modelos podem gravar suas preferências, detectar a presença de pessoas na sala – desligando-se caso não haja – e até mesmo estimar e informar dados estatísticos a respeito do gasto energético gerado.

 

Inverter

Mesmo que não tão nova, essa tecnologia merece ser mencionada, já que costuma gerar dúvidas. Sua principal característica é a economia de até 60% em relação aos convencionais devido ao modo como opera: variando as rotações do compressor com base na temperatura escolhida, ao invés de desligá-lo e ligá-lo como ocorre com os demais, método responsável por altas variações de clima e picos energéticos. Além disso, outros benefícios são redução de barulho, maior sustentabilidade devido ao gás R-410 usado e o custo-benefício a longo prazo.

Para encerrar, podemos dizer que o ar condicionado pode parecer, a primeira vista, indispensável, mas que também pode ter seu uso mais consciente se aliado a outros recursos de climatização mais sustentáveis. 

Vale ressaltar a importância de se fazer uma avaliação responsável e técnica dos sistemas que serão usados para deixar sua casa mais confortável, e obter o máximo de eficiência de cada um deles.

 

Fontes

Minha Casa Sustentável – Guia para uma construção residencial responsável. 2010. Heliomar Venâncio

8 dúvidas sobre ar-condicionado mais recorrentes. Dufrio, 2017. Acesso em: janeiro de 2021.

Conheça as funções do controle do ar-condicionado. Frigelar, 2020. Acesso em: janeiro de 2021 

Qual o melhor lugar para instalar o ar-condicionado? Daikin, 2020. Acesso em: janeiro de 2021.

Saiba como fazer o cálculo de BTUs do ar condicionado. Leroy Merlin, 2019. Acesso em: janeiro de 2021.

Qual é a diferença entre o ar-condicionado inverter e o convencional? Dufrio, 2017. Acesso em: janeiro de 2021.

 

Deise De Conto é Arquiteta e Urbanista, Especialista em Reabilitação Ambiental Sustentável, atua na área de projetos desde 2000.

 

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