Recentemente um aluno do ensino médio me pediu para responder um questionário sobre a profissão de arquiteto e entre as perguntas estava: Qual a função do arquiteto? Isso me fez refletir e resumir em uma frase curta, não suficiente para explicar. Segundo o CAU – Conselho de Arquitetos e Urbanistas- as atribuições do arquiteto são:
De acordo com a sua formação generalista, o arquiteto e urbanista está habilitado a atuar em diversas áreas concernentes ao planejamento e execução de edificações, paisagismo e urbanismo. A Lei nº. 12.378 estabelece genericamente 11 campos de atuação para arquitetos e urbanistas.
Mas o que me fez refletir depois dessa pergunta foi: Qual a verdadeira atribuição do arquiteto? Qual é a responsabilidade que ele carrega de entrega para a sociedade?
Bom, simplificada e tecnicamente falando, sua principal atribuição seria a Concepção e execução de projetos. Porém, gostaria de ir mais longe…
A atribuição do arquiteto não é simplesmente fazer um projeto ou construir uma edificação (essa palavra, vamos combinar, soa um tanto fria). Na minha humilde opinião, o que o arquiteto entrega são ambientes, espaços de viver que tem uma influência importante em nosso bem estar, em nossa rotina, na nossa vida.
Estamos falando de uma geração que passa 90% do seu tempo entre 4 paredes em construções padronizadas. Mas onde tudo começou quando deixamos a natureza para trás? Enchemos nossas casas de coisas. Substituímos a luz natural pela artificial e construímos lugares de onde não queríamos mais sair.
Depois de um tempo, os cientistas descobriram que o ar que respiramos dentro de casa é cinco vezes mais poluído que o ar exterior e que a falta de luz natural pode prejudicar a aprendizagem das crianças e aumentar a tensão arterial.
Descobriram também que o quarto das crianças tem a maior concentração de substâncias tóxicas da casa e que viver em casas com humidade e bolor aumenta o risco de asma em 40%.
Muitas das doenças que sofremos são causadas por ambientes internos ruins e insalubres.
Por sorte, estamos vivendo um momento de reflexão forte sobre o modo de viver e usarmos os espaços, e o conceito da construção saudável tem sido apontado como tendência e ganhado espaço nos últimos anos no mercado da arquitetura sustentável.
A construção saudável foca na saúde, no bem-estar e na qualidade de vida dos ocupantes, onde o principal foco são as pessoas e não a construção.
É uma tendência sem volta. Quando o ambiente construído prioriza as pessoas ele é capaz de proporcionar melhora no conforto e bem-estar e isso reflete na saúde dos seus usuários. Está comprovado o aumento de produtividade em escritórios, de aprendizado nas escolas e que este tipo de construção acelera a evasão dos leitos hospitalares. [Arquiteta Maíra Macedo, Gerente de Relações Institucionais e Governamentais do Greenbuilding Council Brasil]
O ”saudável” busca evitar que as edificações sejam causadoras de algum tipo de doença e, ao contrário, tornem-se razão de conforto, vitalidade e saúde plena.
No entanto, este não é um conceito novo, diversas culturas antigas e tradicionais utilizavam conhecimentos ancestrais, como o Feng Shui, radiestesia e a geobiologia, para a análise dos espaços e construção de edificações mais saudáveis.
Infelizmente, com o avanço da industrialização, as construções se tornaram mais padronizadas e a preocupação com saúde dos habitantes só diminuiu. Atualmente, este movimento já possui empresas trabalhando para tornar o conceito mais conhecido e com ações aplicáveis.
O HBC – Healthy Building Certificate é uma Organização internacional com sede nos Estados Unidos e operação no Brasil desde 2014 que tem como foco capacitar e orientar os profissionais para projetar, construir e manter ambientes, gerando espaços mais saudáveis e promotores de bem estar.
Separamos aqui 5 princípios básicos orientados pelo HBC para garantir projetos de interiores saudáveis:
Existem alguns compostos orgânicos voláteis considerados poluentes perigosos, sendo altamente tóxicos e cancerígenos. E quando os indivíduos são expostos a isso durante muito tempo, podem ter uma série de reações como problemas respiratórios.
Geralmente, esses poluentes estão presentes no acabamento dos espaços como pintura, verniz, revestimentos, carpetes e até mesmo nos móveis. Por isso, é necessário prestar atenção nesses detalhes, priorizando a ventilação natural, outro fator primordial para garantir o bem-estar.
Passamos mais de 90% do nosso tempo no interior de edificações, portanto melhorar a qualidade desses espaços é fundamental!
Mesmo a iluminação artificial mais forte não pode corresponder à luz do dia para nos manter saudáveis. Uma pesquisa científica provou as ligações entre a falta de luz do dia e uma variedade de problemas físicos e mentais. Na verdade, os especialistas estimam que 15% da população mundial sofre de diferentes níveis de TAS (Transtorno Afetivo Sazonal ou depressão de inverno), e essa tendência é maior com o aumento da latitude.
Existem também muitos outros problemas de saúde relacionados com a falta de luz natural adequada. Por exemplo, a deficiência de vitamina D, que tem sido associada a problemas como cansaço, fadiga e maior vulnerabilidade a doenças. Além disso, a luz artificial pode atrapalhar nosso relógio biológico, o que pode levar a problemas de concentração, pressão alta – e muito mais.
Basicamente, a quantidade e a qualidade da luz natural implicam no funcionamento das nossas glândulas, hormônios e até mesmo no estado de humor. Por isso, projetos que valorizam a iluminação natural são mais saudáveis.
O Design Ativo está ligado a uma série de fatores dentro das construções que incentivam a atividade física. Nele, há uma integração da prática de exercícios físicos na rotina das pessoas como, por exemplo, subir escadas. E ao se tratar de projetos saudáveis, incluir o design ativo significa pensar na saúde dos ocupantes, melhorando seus hábitos e evitando o sedentarismo.
Talvez você não saiba, mas as radiações eletromagnéticas, principalmente, as advindas de antenas e aparelhos celulares são extremamente prejudiciais à nossa saúde. A exemplo disto, um estudo da Academia Russa de Ciências comprovou que quando estamos próximos a aparelhos celulares na hora de dormir, as fases do sono são alteradas, podendo atrapalhar o momento do sono reparador.
Na hora de escolher os materiais para a construção é preciso garantir que eles serão atóxicos (na medida do possível). Uma forma de observar isso é descobrir se eles têm metais pesados em suas composições, caso sim, deixe-os de lado. Enquanto as tintas, vernizes, e outros, o ideal é que não contenham formaldeído e não liberem os COV’s (compostos orgânicos voláteis). Sabe aquele cheirinho de carro novo? É um exemplo de COV’s. Quando você evita tudo isso, além de proteger a sua saúde, também assegura o bem do meio ambiente.
Por isso, quando pensamos nas construções saudáveis, devemos considerar afastar – ao máximo – o excesso de campos eletromagnéticos que já foram considerados como sendo o ”cigarro do século XXI.”
Mesmo sabendo que a construção saudável tem se tornado um assunto mais abordado, ainda é comum encontrar construções irregulares que ocasionam certos desconfortos nas pessoas, como é o caso de alguns dos problemas como rinite alérgica, dores de cabeça e mal-estar
Os benefícios de uma construção saudável são muitos:
Sabemos que toda essa informação pode ser preocupante, mas o bom de tudo isso é que você pode escolher como essa história termina…
Além de novas rotinas diárias, também é importante aproveitar as chances de fazer mudanças fundamentais no clima interno de sua casa. Para isso, procure profissionais que se preocupem com o bem estar e estejam bem informados sobre assuntos como construções saudáveis, biofilia e sustentabilidade para consultoria ou projeto.
Além disso, ações relativamente simples como as listadas abaixo, podem trazer resultados mais imediatos.
O conteúdo do ar interior inclui gases, partículas, resíduos biológicos e vapor de água, que são todos perigos potenciais para a saúde. É recomendável arejar a casa três a quatro vezes por dia, por pelo menos 10 minutos de cada vez, com mais de uma janela aberta. Além disso, areje o quarto antes de ir para a cama e ao acordar pela manhã.
Cuide da sua casa, limpe, decore, mas tenha sempre consciência que o que tem disponível de graça é o que mais importa, e o que mais precisamos. Então, agora, tire um minuto e abra as janelas, deixe o sol e o vento entrar.
Mova sua mesa de jantar ou escrivaninha para mais perto da janela. A luz artificial não consegue reproduzir as qualidades da luz solar, que é um antidepressivo natural. Ilumine sua casa e local de trabalho com o máximo de luz natural possível. Existem muitas evidências científicas que associam a luz do dia a melhor saúde e qualidade de vida, como melhora do humor, menos cansaço e menor fadiga ocular.
Nossos corpos só podem se sincronizar com o chamado ritmo de 24 horas “dormir, trabalhar, viver” por meio da exposição correta à luz e à escuridão. Se possível, oriente seus quartos – principalmente aqueles para adolescentes e adultos jovens, que têm um relógio biológico atrasado e muitas vezes têm dificuldade para se levantar pela manhã – na direção leste em direção ao sol da manhã. Além disso, certifique-se de que suas cortinas evitem a entrada de tanta luz quanto possível no quarto à noite.
A maioria dos cientistas concorda que ser exposto a duas horas de luz do dia por dia é um grande impulso para o nosso bem-estar mental. Saia quando tiver oportunidade e tente esticar as pernas regularmente.
Separamos algumas imagens para te inspirar por uma vida mais saudável através da arquitetura. “Carpe Diem”.
A primeira casa ativa nos Estados Unidos, é uma casa tradicional construída com os padrões mais modernos
Uma casa moderna que oferece um clima interior saudável e uma eficiência energética excepcional – ao mesmo tempo que se harmoniza com a sua vizinhança tradicional. Essa é a primeira casa ativa nos Estados Unidos. Casa da família Smith de St. Louis, Missouri, que acha sua casa extremamente confortável.
PRÉ-ESCOLA COM LUZ DO DIA E AR FRESCO
A reconstrução de duas salas de aula pré-escolar na Endrup School ofereceu uma oportunidade de criar ambientes internos saudáveis para as crianças e implementar novas tecnologias de eficiência energética. Ao fazer isso, a equipe de design também esperava criar um espaço melhor para aprender e ensinar – e para se conectar com a natureza.
Esta casa foi construída em cima de uma casa de fazenda histórica. O resultado é uma casa ativa brilhante e não convencional.
Fontes: Velux | SustentAqui | HBC | Velux YouTube
Deise De Conto é Arquiteta e Urbanista, Especialista em Reabilitação Ambiental Sustentável, atua na área de projetos desde 2000.